3 de junho de 2010

Por que Räikkönen está indo bem

por David Evans

Enquanto seu companheiro de equipe na Citroën Junior Sébastien Ogier roubou as manchetes com a vitória no Rali de Portugal, Kimi Räikkönen continua seu constante progresso no WRC.

David Evans explica porque aqueles que estão descartando o finlandês estão se precipitando. A equipe Citroën ficou no topo e no fim dos dez melhores do Rali de Portugal, na semana passada.

Inúmeras palavras foram escritas sobre Sébastien Ogier, que terminou em primeiro em Faro. Nem tantos vão ler sobre Kimi Räikkönen, na outra ponta dos líderes. Tendo comprometido diversos parágrafos ao piloto de C4 WRC que não venceu um campeonato mundial de Fórmula 1, agora vou redirecionar este balanço.

É impressionante a velocidade que chega o descontentamento no caso de Räikkönen. Certamente, ele não veio para iluminar o WRC, mas era realmente sensato esperar isto? É claro que não. O que Räikkönen tem feito é um trabalho sólido e sensato. Ele cometeu um errinho aqui e ali, com sua manobra no México tendo sido o maior de todos, mas o Rali de Portugal, na semana passada, foi mais um exemplo dele fazendo o trabalho preliminar para o que vai ser, espero, seu lar pelos próximos anos.

Räikkönen disse desde o início que ele estaria pilotando para chegar ao final em Algarve. E foi isso que ele fez. Ele estava longe do carro havia mais de um mês e nunca tinha competido no evento antes. E, acredite em mim, tendo pilotado em alguns dos estágios, não há nada simples nas estradas portuguesas. Em muitas formas, fazer notas de ritmo para Portugal e mais difícil do que em algum lugar como a Finlândia; há cumes após cumes, com curvas entrando ou saindo deles. E não há linha de árvores para seguir. A sexta rodada foi sem dúvida o maior desafio para Räikkönen em sua habilidade de fazer notas até agora.

E, mais importantemente, foi somente a sétima vez que ele fez isto numa rodada do WRC. Este e o ponto que, para mim, destaca o empenho de Räikkönen. Ele continua sendo um novato no esporte, mas porque ele teve êxito no nível mais alto em algo diferente com quatro rodas, há uma expectativa natural que ele vai pular num carro de World Rally e fazer a mesma coisa.

Esqueçam...

Conversei com alguns dos mais velhos no automobilismo sobre Räikkönen e eles estão estupefatos com a relativa falta de ritmo do ex-piloto da Ferrari. "Ele não é nenhum Jim Clark, não é?" foi a clássica frase de um.

Como é que você pode tentar responder algo desse tipo? É claro que ele não é. A Lotus que Clark pilotou em 1963 e 1965 era uma máquina descomplicada do automobilismo. A Ferrari de Räikkönen de 2007 provavelmente tem mais em comum com o ônibus espacial do que com o 25 motor V8 de Clark. Mudar da Lotus para um Ford Cortina para o Rali RAC de 1966 era consideravelmente mais fácil do que o que Räikkönen está tentando fazer.

Quando Clark chegou perto de vencer o maior rali da Grã-Bretanha, o carro que ele usava tinha pouca semelhança com o carro com o qual ele percorria alguns dos melhores circuitos do planeta. Mas as semelhanças eram consideravelmente mais fortes do que entre a Ferrari e o C4 de Kimi.

Räikkönen encara milhares de mapas diferenciais e uma imensidão de opções de amortecedores e isto antes dele ter sequer arranhado a superfície do que o carro de World Rally atual é capaz. Para Clark, as opções de ajuste não teria sido muito mais além de ligar e desligar os pára-brisas.

De nenhuma maneira estou subestimando o que Clark alcançou. Como poderia? Ele era um gênio por trás do volante de qualquer carro que ele entrasse. Mas o que quero dizer é simplesmente que você não pode comparar gerações. Simplesmente não funciona. Mas uma coisa é certa: o talento, comprometimento e bravura de Räikkönen estão além de qualquer dúvida. Aqueles que estão pensando que ele não tem o necessário para levar um Citroën tão rápido quanto Loeb ou Ogier deve a) esperar uma ou duas temporadas e b) subir a Eau Rouge em pista úmida a toda...

E outra coisa também é absolutamente certa: Räikkönen está odiando seu estacionamento neste momento.

Ele caminha pelo serviço de estacionamento com sua marca registrada: seu boné da Red Bull enfiado até seus enormes óculos escuros, sem querer realmente falar com o mundo. Por que ele iria querer? As pessoas querem saber por que ele não está vencendo. As pessoas tendem a fazer perguntas idiotas e ele não tem interesse em dar a hora do dia. Eles não entendem. Eles nunca vão entender.

Mas embaixo do boné e dos óculos está um piloto desesperadamente determinado. Você não se torna campeão do mundo sem um comprometimento imenso e um talento extraordinário. Räikkönen tem os dois. Ele não se esqueceu de nenhum. E, com mais tempo no Citroën C4 - esperamos com o DS3 WRC no ano que vem - chegará sua época de imitar Clark.

A próxima geração de World Rally Cars, que chega no início da próxima temporada, pode realmente ser boa para Räikkönen. Desprovido de muitos dos auxílios mecânicos, eletrônicos e hidráulicos que estão nos motores atuais, os WRCs 2011 serão construídos para pilotos.

E, independentemente de onde ele terminou em Portugal, Räikkönen permanece um dos melhores pilotos a pisar neste planeta.

Mantenham a fé. [Fim]

Fonte: Autosport
Agradecimento: Pyper
Tradução: Fran

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