10 de abril de 2010

Pilotos, que tipo de pessoas: O Enigma do Bebedor Sagrado

Hoje eu prometi falar sobre Kimi e talvez eu pudesse me livrar com uma confissão direta e franca: eu sinceramente sempre gostei deste loiro atípico e fora do comum, por sua estranheza a alguns tipos de comportamentos 'robóticos' na Fórmula 1 pós-moderna, e assim por diante. Mas eu sei que não seria suficiente.

Então. Bem, desde o início de sua carreira, Räikkönen pareceu para mim um sujeito comparável a alguém como Mansell. Vocês lembram do Leão Britânico? Ele definitivamente não era tão completo como Senna e não tinha o talento 'político' como Prost tinha, e isso é porque ele foi batido por ele durante o ano que eles passaram juntos na Ferrari. Mas Mansell, com um volante nas mãos, era um voleio de emoções puras.

Beberrão Sagrado, idem. Desde o início, quando ele ainda estava na Sauber, já tínhamos imaginado que sua relação com o automobilismo tinha se esgotado com o elemento agonístico. Pilotar. Manter o pedal no metal. Levar o carro que você tinha ao limite. E prestar atenção zero ao exterior, aos detalhes, às regras não-escritas que são característica daquele ambiente.

É um limite? Pelo jeito que as coisas foram, pelo jeito que as coisas terminaram para ele, certamente, sim. Normalmente, quando um piloto se torna campeão mundial, ele é afagado pela equipe que ele levou ao triunfo. Então, eu também estava errado quando, na mágica noite em Interlagos 2007 eu pensei "Kimi venceu de uma maneira incrível, eu sei, ele foi ajudado pelas brigas internas da equipe McLaren e pelas consequências do escândalo da espionagem, mas agora, em Maranello, ele será o rei, o proprietário. Então, uma nova era está chegando e esta era vai durar, porque o talento não pode mais ser questionado."

Eu disse isto e eu estava errado. O Beberrão Sagrado também estava errado. Em 2008, após o sucesso em Barcelona, o segundo da temporada, ele tinha o campeonato em suas mãos. Pelo contrário, por causa das capas de pneus esquecidas no GP de Monte Carlo, os pneus errados em Silverstone, a falha do exaustor na França e o acidente com Hamilton em Montreal, a deslegitimação começou. Acompanhada por uma escolha estratégica que não vem ao caso ser analisada aqui: a Ferrari tinha decidido apostar em Alonso, talvez o curso já estivesse fixo no final do verão de 2007, quando El Banco foi decisivo em destruir Dennis, mostrando aqueles notórios e-mails de seu computador.

Mas esta notícia já é história. Eu afirmei e ainda afirmo que Räikkönen não merecia ser tratado desta maneira. Tenho pleno conhecimento que se Todt não tivesse mudado de emprego, bem, nada do que acabamos de dizer teria acontecido. Mas não posso provar meus próprios sentimentos, então eu paro aqui.

Falando brevemente, Kimi como um piloto não pode ser contestado e mesmo aqueles que o deixaram concordam com esta afirmação. Kimi é o Rei de Spa e qualquer um que conhece a Ardennes sabe que naquela pista os maiores vencedores são realmente dragões, de Senna a Schumacher a Prost. Talvez Räikkönen não valha tanto quanto estes três em termos absolutos, por exemplo, ninguém nunca o descreveu como um piloto de testes formidável. Mas entre seus contemporâneos (e Schumi não o é, apesar dele ter feito a tolice de retornar à F1), eu não vi ainda um piloto que pode ou deve ser considerado significativamente melhor do que o loiro. Alonso não o é, nem Hamilton, nem Vettel.

Talvez (e então chegamos ao coração do problema), o elemento humano não ajudou o Beberrão Sagrado. Quero dizer, Kimi é realmente uma pessoa de poucas palavras. Räikkönen não é um cafetão, ele não puxa o saco de ninguém, ele pede o que ele vale, ele respeita e exige respeito. E para por aqui. Não tenho lembranças de pressões 'políticas' que ele tenha exercido, em três anos ele nunca ficou bravo com Massa e seu clã, e assim por diante. Outro piloto, em seu lugar, após o milagre de 2007, provavelmente teria levantado sua própria voz, dizendo 'a partir de agora eu sou o líder'. Ele não o fez. Ele se calou. Às vezes ele vinha ao 'departamento de corridas', conversava com os engenheiros, então ele ia a Fanano, onde há um estabelecimento de gelo, para organizar um jogo de hóquei.

Você mesmo entende que, no fim do dia, se livrar de alguém como ele, muito ingênuo mas também muito prático, era só uma questão de dinheiro. Kimi não tem lobistas por trás dele, não tem aliados no céu, nos mapas de Ecclestone, a Finlândia é apenas uma pequena marca. "Tudo acontece e não há nada errado, é a vida e é hora de você crescer, você tem que aguentar, então, sim, bonita..." (Vasco Rossi, Quando você precisa, você precisa).

No fim, falando um pouco sobre a lealdade e jogo justo na pista, eu não me lembro de nenhum ato impróprio flagrante ou defeitos do Beberrão Sagrado. Jogador duro e forte, mas sem atitudes de bandido. Nisso, ele é muito parecido com seu compatriota Häkkinen, um lutador justo.

Acho que a Fórmula 1 está sentindo a falta de Kimi, e não vice-versa.

Fonte: Quotidiano.net - Blog do Turrini.
Agradecimento: TaniaS - KROF
Tradução: Fran

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